terça-feira, 14 de outubro de 2014

A terapia.



- Vamos lá! Me fala!
- Nossa... nem sei por onde começar!

[ silêncio. risinho. desvio de olhar ]

- É. Na primeira vez é estranho mesmo.
- Eu não quero ficar viciada em remédio.
- Quem está te dando remédio?

[ risos. falação. falação. falação ]

- Você conhece o Tinder?
- Não. Mas muita gente que senta aí fala dele.

[ risos. falação. falação. falação ]

- E aí, doutor?! Você acha que tenho muito problema?
- A princípio não... vejo apenas alguns padrões e desencontros amorosos. Precisamos conversar mais. Amanhã?
- Amanhã! Sou ansiosa.
- rs. Percebi.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A bronca.



Lá foi você de novo, ô teimoso coração!
Foi se meter sozinho na selva.
Quando me dei conta, você já tinha saído correndo para o meio do mato e naquela altura já não conseguia mais te segurar.
Mas tudo bem, seu pulsante. Sei que você foi na melhor das intensões, sei que foi inocente, que foi sem medo e que sequer pensou nos perigos que corria. Sei também que você estava procurando amor e só por isso te perdoo. Você nunca se satisfaz, né? Já não basta o tanto de amor que carrega aí dentro? É tão cheio que você precisa sair distribuindo para poder ter mais! Eu, realmente, não entendo.
Ai, ai, viu. Ao mesmo tempo em que te julgo um carente insaciável, confesso que te respeito por isso. Mas você precisa tomar cuidado para não se machucar mais e tem que parar de fugir toda vez que me distraio. Você já vive sangrando, sabe da sua fragilidade, sabe que a selva é perigosa, e, mesmo assim, nunca aprende. Numa dessas você morre, seu doido! E acaba me matando também!
Agora pára de ficar me olhando com essa cara de nó e me diga o que encontrou dessa vez. Eu te conheço. Sei que sempre volta com alguma coisinha.
Como assim, coração? Fala mais devagar para que eu possa entender.
Calma! Você já sabe que tudo passa e que nada é definitivo! Não precisa desse desespero todo. Respira.
Não, não! Não tem que tentar segurar nada não! Você sabe que as coisas não funcionam dessa maneira, sabe que vive se atropelando e depois fica aí acuado, chorando pelos cantos.
Gente! Você não aprende nunca, hein?
Como assim dessa vez é inédito? hahaha Você me diverte com essas historinhas!
Claro que estou te levando a sério! Mas entender, entenderrrr eu não consigo mesmo não. Sabes que sou muito racional para isso. Mas estou aberta, fale mais desse outro coração que encontrou enquanto brincava de esconde-esconde na floresta.
O que aconteceu?
Vixeee! Jura? Deus do céu! Foi mais sério do que eu imaginei então.
Tenho imaginação sim! Não precisa me ofender!
Olha só... E eu aqui pensando que essas coisas só existiam em contos de fadas. Se bem que você vive em um, né? Esse mundo em que você habita fica pra lá de Wonderland e se encontrou outro parecido com você, tenho até medo de onde isso pode chegar. Mas fica em paz que logo logo você vai brincar com seu amiguinho de novo.
Seja leve e tranquiliza-te que para tudo dar-se um jeito.
Agora entra aqui e dorme um pouco. Vai te fazer bem descansar.

domingo, 16 de setembro de 2012

A memória das águas.



- Ouvi uma menina cantando uma música.
- É? Qual?
- Não lembro direito... Mas era linda.
- Bobagem. Esquece isso.

Lá na memória:
"Garimpeira da beleza te achei na beira de você me achar..."

- Não, não! Pára. Não foi dessa vez. 
- É, eu sei.
- Te avisei.

- Acredito em encontros.
- Encontro desencontrado não é encontro, é susto.
- Desencontrar é fácil. Principalmente aqui. Na cidade onde o volátil é luz. Poderia deixar passar...
- Deixa passar. Você é muito. Assusta.


[ Você passa, eu te passo. 
Eu me passo. ]


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Para ouvir: